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COMBINANDO A MALANDRAGEM
(M.Vivas)
Pois não me cabe expor aqui vicissitudes
Abro espaço p’ras virtudes dessa dama que foi meu grande amor
Nos conhecemos quando ela foi ao banco
Em que fui escriturário, ora caixa temporário
Foi pagar um crediário de um carro coreano
Rasgou o cheque, apurou a assinatura,
Fez com tanta formosura e piscou para este pobre diabo
Que num agrado, cantada tola suburbana, não deu em conta sua grana
E se viu paralisado no decote ensolarado vindo de Copacabana
Seu CPF irregular não se fez óbice na trama...
Mais tarde fomos a um café na Olegário
Má idéia deste otário, pois na Barra da Tijuca uma média qualquer,
Custa os olhos esbugalhados do mané, que prescinde do adoçante,
Por andar desconfiado do efeito indesejável no organismo do aspartame
Valeu a pena, no entanto impressionar com meu gosto singular
A doutoranda em língua inglesa, de erudita realeza,
Filha de um grande colecionador de arte, estudiosa de Descartes
E eu percebi que o meu ápice era entender o extrato do surrado Mastercard
Daí que eu soube anatocismo nada tem com Roland Barthes
Armei um plano infalível,
Elevando nosso nível de conversa para além do elevador
Combinando a malandragem de Aniceto do Império
Com a ingenuidade boa-praça de Rousseau
Dei um agudo em Nessun Dorma
Que sequer no auge da forma
Pavarotti performou
Puccini até ficou bolado, fato psicografado num boteco da Ouvidor...
Imitei o Sancho Pança, descrevi uma avalancha, táticas na meia cancha de um time vencedor
Falei das regras do basquete, como encordoar raquetes, e do russo Fiodor
Ignorando a Guerra fria, expliquei o futebol americano com refino
E o neo-realismo do Luchino, falei do livro do Capote,
E que o inglês, pinta de lorde, na verdade, é argentino.
Azul é a bola pr’o Gagarin, fafafalei dodo Noel, gegênio dedesde menino...
Fui estudar arquitetura
E entender a criatura do artista centenário e sua obra inigualável,
Nem para todos palatável, mas valeu pelo francês,
Agora sei o que é de fato e de que trata um rendez-vous
De Bauhaus e Art Deco, dei uma idéia p’ra um adega p’ra guardar os seus Bordeaux
Lhe dei revistas femininas que prometem o orgasmo, ou um espasmo de valor
E estilistas reafirmam nessa moda pós-moderna há influência de Coco
Depois de tudo isso, pasme, se ela não se apaixonasse
Onde fica o corredor...
Que me conduz ao cadafalso, pois o cheque da princesa vagabunda é voador.
Ouvi dizer que fez biscate lá nos fundos do alfaiate, que assinou sem fiador...
Perdi o emprego, e como li Lima Barreto, fui jogar confete na formação do jetset...
Aí ganhei dinheiro, minha secretária é boa, meu contador é um nerd...
E hoje a bandida limpa o ralo, é vulnerável no buraco, vende churrasco de drumete.
- Genre
- Samba de breque