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Por Julio de Paula
1. Pastoril do Faceta, brincante-palhaço
Esta fita abre com o “Boa Noite” original (gravação de 79) citado por Chico Science em “Da Lama ao Caos”. O pastoril profano é brincadeira de adulto, entretenimento ingênuo-lascivo.
2. Baianá alagoano, o beat-brincante
As baianas são uma “mania nacional”, diz Hermano Vianna em “Música do Brasil”. Como no grupo liderado por Mestra Maria do Carmo, as Baianas Mensageiras de Santa Luzia. Experimente não marcar o ritmo (igual ao do hip hop, jungle, d&b). Impossível.
3. Balanço da canoa, brincante-remix
De braços abertos ao repertório tradicional, Chico Correa vem traduzindo e sintetizando ritmos, buscando (ou não) uma batida eletrônica de "raiz". Sente o balanço, nego!
4. A Quixabeira e o brincante-comunitário
Véio e Seu Martinho puxam a chula da Lagoa da Camisa. Cooperação pra trabalhar a roça, construir a casa, celebrar. Como diz a coleção “Turista Aprendiz”: o canto conjunto desses 10 trabalhadores do sertão da BA vem caracterizar nosso Brasil rural.
5. Reisado dos Irmãos, os brincantes-devotos
“Meu coração pede pra eu vadiar” – está dado o recado da família Evangelista, de Juazeiro do Norte. O Reisado marca o nascimento de Jesus ou a festa sagrada do re-nascimento, quando abraçamos os diabos e festejamos o solstício de verão.
6. Bumba-meu-boi de Maracanã, boi-brincante
De norte a sul, morte e renascimento caracterizam o ciclo do Boi. No Maranhão, o solstício de inverno é tempo de Boi. Grande brincante, Humberto do Maracanã, renasce a cada audição neste registro de 2000 (por Siba e Beto Villares). Salve o Guriatã e seu Batalhão de Ouro.
7. Baião de Princesas, brincantes-encantadas
Baião é baile ritual da Mina maranhense, aqui em gravação dos filhos da Casa Fanti Ashanti com o grupo A Barca. A voz de Juçara Marçal nos lembra o quanto a brincadeira pode unir planos distintos. Ou, como dizia Pai Euclides, o quanto pode fazer os negros manifestarem seu dom de compositores em pleno transe.
8. O Caroço de Dona Elza, brincante-alegria
Os Brincantes da Dança do Caroço de Tutóia (Lençóis), tem o prazer da brincadeira há gerações. Dona Elza é uma das personagens emblemáticas da já citada “Música do Brasil” (gravações de Villares). A alegria contagiante nos traduz o gozo da festa – “Eu gosto de brincar, brinco totalmente de vontade”, diz.
9. Siba, a Fuloresta e o brincante-maracatu
Em toda sua complexidade, o maracatu talvez seja um dos grandes enigmas. Desafio, prazer, sacrifício, deleite. Expressão poética e coreográfica da Mata Norte (PE), o baque solto é puro frenesi. Aqui, apresentado por Siba em parceria com seus mestres de sambada. Na mais bela “interferência” no folklore que tenho notícia: “Fuloresta do Samba” (2002).
10. Juntando Côco, brincante-quebra-coco
O coquinho de Dona Cila foi gravado para o CD “Mauritsstadt Dub” (2005) e remixado pelo Instituto. O coco talvez seja uma das brincadeiras mais democráticas. Seu brincante precisa de algo pra bater o ritmo e gogó pra manter o canto responsorial. Além, é claro, do “remelexo melado melancólico” peculiar ao “homem mais cantador desse mundo: o nordestino” (Mário de Andrade).
11. Carimbó de Dona Onete, brincante-cabocla
O carimbó chamegado de Dona Onete é muito mais que “gostoso e brejeiro”. Natural da Ilha do Marajó, a professora de história e brincante de 70 anos, abraçou as novas gerações (ou vice-versa) e vem revelando seu maior segredo: sedução em música.
12. Verequete, brincante-da-floresta
No final desta fita, aparece outra gravação dos 70, um carimbó de Mestre Verequete. Rei do imaginário amazônico, seus tambores são emblemáticos. Sua poesia minimal encerra a compilação: “Moça bonita que está na janela, borboleta da asa amarela”.
13. Tecnobrega, tecno-brincante
Poslúdio, esta peça de Pio Lobato consta do álbum “Tecnoguitarradas”, gravado em casa, em 2007. Este mestre da guitarra joga com nosso gosto. E nos faz adotar o brega low-tec como parte integrante da brincadeira.
- Genre
- música tradicional do brasil